terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Corpo como Memória

Eis que aqui sou eu, memória só. Meu corpo, memória, registro do sido e do por vir é o que é, memória. Memória do presente e do ausente, que oscila entre o já manifesto e o não.
É essa memória que como um vapor recobre meu corpo por dentro e por fora e ativa os eretores de meus pêlos a um cheiro "lembra?"...
Dança a memória de um tecido a outro, da pele aos músculos e às vísceras, anima-os como o sopro inicial. Talvez, como lembrança dele, seja toda a memória, o Sopro, ressoprado a todo instante, eternamente lembrado.
Pancadas, dores, orgasmos e pensamentos, tudo marcado em mim. Marca há em meu corpo até da morte que não morri.
Lembrar, memorizar, recordar não são a memória da qual falo. Falo da memória em meu corpo que une passado, presente e futuro, que junta em si tudo o que já foi e será. A memória não está nas partes...apesar de estar.
Imaginando um jarro que se quebra, o despedaçado...é um separado em vários ou serão vários uns. 
Jung dizia que existe um inconsciente coletivo, será então que nossas consciências são vários uns separados ou um separado em vários? E nossas memórias? E nossos corpos?
Cada vez que tento encontrar essa memória plena ela se desfaz, se me calo ela parece se aproximar mas faz suspense e não se mostra.
Tento apenas sentir meu corpo, senhor e escravo da memória. Senhor por contê-la e escravo por responder a ela.
Sou material memória, afinal não existe memória imaterial.

3 comentários:

  1. Rogério, com esse texto você me remeteu a memória de te chamar mais uma vez de ESPETACULAR...Parabéns!!!

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  2. Ao desfragmentarmos a matéria na sua menor parte chegamos a memória, é tão fluida para que não tenhamos controle sobre ela.
    Parabéns pelo blog.

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  3. somos todos garrafinhas de vidro abertas no fundo do mar. o que está dentro de uma, está dentro de todas. o problema é que colocamos uma tampa no gargalo e passamos a pensar que o que está dentro de nós é diferente do que há no outro e do que está em volta e acima. é só destampar e, então, o mar pode fluir de volta.

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